segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Solta-se o beijo




Por instantes deixou-se vaguear naquele beijo prolongado, que fluía no sentido das águas de um rio que corria ali bem pertinho dos dois, deixando-se levitar numa doce e incontida paixão. Estava longe e distante de casa, envolvida por um espaço que desconhecia, perdida num misto de fulgor e delírio, parecendo entrar numa vida que não era a sua.

Deixou que uma parte de si se escapasse à realidade certinha de um quotidiano que dá horas, para se perder num dilúvio que não tem dia nem noite, nem norte nem sul, nem tão-pouco um ponto de partida.

E então deu conta que tinha um outro eu, um eu incontido e solto que fez questão de se deixar abraçar por uma cidade em tudo anónima, dando voz a um coração pulsante e ávido de emoção como o próprio ritmo de um dia a espreitar.

A verdade é que ela gostava – [tanto] – de se sentir e redescobrir em cidades que não a sua – soltando o seu eu apaixonado e tonto, anseando por verdadeiras histórias de amor – daquelas de cortar a respiração.