terça-feira, 28 de julho de 2009

Gosto


Gosto de chegar até ti de surpresa e de te surpreender. De sentir o dia pulsar e percorrê-lo contigo, de te guiar nas minhas palavras e sonhos e sentir-me suspensa do tempo. Contigo.
Gosto quando de tão gelada a água do mar arrepia e eu entro nela fazendo o meu corpo estremecer. Gosto quando és tu que me fazes estremecer e eu pequenina me deixo tão lentamente aquecer envolta em ti.

Gosto que me invadas, me abanes, me despertes todos os meus mais pequenos sentidos para ti e para a vida, nesta vida que corre lá fora e em nós, e de estar desperta para o fluir de um enredo.
Gosto de me sentir viva, de sorver palavras e leituras que de tão intensas me façam pensar. Gosto de emoções fortes, beijos quentes e inesperados que me trespassem a alma quase me fazendo voar.

Gosto de imagens, pormenores a preto e branco, momentos bonitos e de os conseguir captar.

Gosto de brisas de verão e de chuva miudinha, de dias anónimos em cidades pulsantes, em que espreito por rostos desconhecidos que algures procuro, de correr por parques e ruas e cruzar algum olhar.
Gosto de ondas, brandas ou tão fortes, de furá-las ou surfá-las num misto de medo e sedução.
Gosto de saber que no mar estou eu, eu tão frágil ou tão forte à espera de algo que nem sei bem dizer, mas que sempre procuro e que nem sempre encontro.

Gosto do cheiro do teu corpo, de cheiros de outros corpos, de sedução. De sonhos distantes, corpos contrastantes, de me soltar.
Gosto de saber os signos das pessoas com quem me dou e saber que astrologicamente até somos compatíveis.
Gosto de noites longas e céus estrelados, de me descalçar numa varanda ao luar, escutar e manter conversas tão longas e às vezes fúteis, com um copo de vinho na mão.

Gosto das gargalhadas dos meus filhos, de os encher de mimos e de os ver felizes. De ser criança outra vez e entrar no mundo povoado de espadas, crocodilos e piratas em que vive o meu filho mais novo, esperando que ele cresça a querer ser um pirata dos bons. Gosto muito da vaidade que sinto e que sei que o meu filho mais velho sente quando já vai comigo para o mar.

Gosto. Gosto de gostar e de dizer que gosto sem timidez e sem o receio de me sentir tola a dizê-lo, de dizê-lo baixinho, dizê-lo alto, dizê-lo assim do nada, dizê-lo aqui e agora e dizê-lo com estas minhas palavras que se soltam em desvario querendo encontrar sempre outras formas de gostar.

Gosto já muito de alguns de vocês e de sentir que vocês até gostam assim um bocadinho de mim. Gosto de aqui estar.