quinta-feira, 21 de maio de 2009

Com um gin tónico na mão


Imagem daqui


Foi num final de tarde com sol, numa das esplanadas do Cais de Gaia com uma daquelas vistas fantásticas para o Porto que o meu amigo A. me disse que se ia divorciar.

Disse-mo com o seu ar habitualmente sério e assegurou-me que já não havia nada a fazer. O amor tinha-se esgotado, dizia, “agora incendiamo-nos com palavras e silêncios que tornam os nossos dias em comum insuportáveis”.

Eu tinha visto o amor dele e da T. nascer e crescer. Tinha presenciado bem de perto o primeiro beijo deles, no meio de uma pista de dança ao som dos Waterboys (The Whole of the Moon, era a música). Nesse dia, há muito tempo atrás, o meu mundo quase ruiu. (Ergueu-se, claro, pouco tempo depois...)

Mais tarde fui a sua madrinha de casamento. Nesse dia, (bela festa, belo dia, meu Deus) por entre muitos abraços, frases bonitas e muitas lágrimas, selámos para sempre a nossa amizade, jurando que iríamos continuar a estar sempre presentes nos momentos importantes da vida de um e de outro.

E ali estava eu, a saber por ele próprio e em primeira mão que afinal esse amor de 8 anos se tinha diluído com o vento.
Ali estavámos os dois, meios perdidos a olhar para o rio e para os barcos rabelos, sentindo a beleza do entardecer e a procurar palavras para dizer um ao outro.

"Não existe ninguém", justificava-se, "nunca lhe fui infiel".
Acendeu um cigarro e fumou-o de uma maneira sedutora, em que eu acompanhava com o olhar as suas mãos a segurar no cigarro e a levá-lo à boca, em que me perdia a olhar para o seu bom aspecto e pensava se haveria alguma coisa que pudesse dizer, para além do inevitável “tenho pena, tenho muita pena, …e os teus filhos?? Tenta nunca lhes faltar….eles vão sofrer, sabes?”

Por essa altura já tínhamos bebido cada um de nós um gin tónico, forte e gelado, com uma rodela de limão. Os nossos copos já só tilintavam com o que restava do gelo e A. levantou-se para ir buscar outro.
Voltou com as lágrimas nos olhos e com outro copo na mão. “não vou deixar nunca os meus filhos sofrerem…”

Não ficámos ali por muito mais tempo. Entretanto a noite caiu e eu tinha de ir para casa.
Saí dali com uma certa mágoa no peito, com a mágoa de quem cresce e afinal percebe que esta vida não é como nos contos de fadas. Que as relações entre duas pessoas são afinal frágeis e complicadas, que isto de partilhar um amor para toda a vida é muito mais do que uma festa bonita, com muitos convidados.