quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o pecado mora ao lado




Encontraram-se no aeroporto por mera casualidade. Um encontro que fez o coração dela disparar logo ali no balcão do check in. Ia preparada para encontrar fosse quem fosse menos a ele. Ambos iam viajar sozinhos, e ambos, por coincidência ainda maior, iam fazer escala em Frankfurt. Ela para Varsóvia, ele para Berlim.
A verdade é que mesmo que ela não o tivesse encontrado, todo o percurso da viagem iria ser a pensar nele, porque era ele que de há uns tempos para cá ocupava todos e mais os outros pensamentos dela, mesmo que ela os rebatesse; daí aquele encontro a ter feito corar e fervilhar como se entrasse numa outra realidade.

Só o facto de estarem a partir para outro destino longe do das suas vidas habituais tornou toda a viagem enfeitiçada de sensualidade.

E o facto de estarem os dois pela primeira vez a sós um com o outro e num ambiente fora de todos os outros a que estavam habituados fez irradiar uma aura de emoção, aos quais nenhum deles conseguiu permanecer indiferente.

No início, apenas balbuciaram frases básicas, quase sem nexo, estavam nervosos, sentiram-se crianças.

Depois o avião levantou voo e facilmente as palavras começaram a fazer sentido, os enredos ganharam consistência, o tempo que estiveram no ar passou à velocidade da luz e por outro lado pareceu uma eternidade, porque essa eternidade ficou-lhes gravada nas suas mentes.

Chegaram a Frankfurt e ainda tiveram algum tempo para continuar a sorver pensamentos e olhares, empatias e histórias passadas, desabafos e cumplicidades. Não perderam sequer tempo a olhar à volta, não sentiram nem fome nem sede, as revistas que ela sempre comprava ficaram para um outro dia. Os passos apressados das muitas pessoas que circulavam pelos corredores do aeroporto permaneceram anónimos, assim como eles se sentiram anónimos de tudo e de todos de quem alguma vez tivessem conhecido.

Na hora de ele ter de embarcar para Berlim, ela lutou consigo própria para ser forte e pôr de parte toda aquela tortura de perceber que aquele homem estava a mexer com ela. De tal forma que sem pestanejar partiria com ele para onde quer que ele fosse, regressaria com ele de onde ele quisesse, e enfiar-se-ia na vida dele, assim, sem mais nem menos, todos os restos dos seus dias.

Ficou mais uma hora sozinha ainda à espera do seu voo. A olhar estaticamente para os aviões a pousar e a levantar e a pensar que às vezes a vida prega partidas e que podem acontecer coisas fora do tempo. Fora do tempo dela. Olhou para as nuvens e fechou os olhos. Começou a chover e com a força da chuva ela disse de si para si que aquele homem nunca poderia ser dela.